EDIT.WORK – Entrevista a Tânia Vieira
” O que o processo do Design Thinking faz é explorar a criatividade através do pensamento divergente e do pensamento convergente para a criação de hipóteses numa procura contínua de soluções eficazes e focadas nos utilizadores.”
Tutora do curso Design Thinking for Business Innovation da EDIT., e das Growth Sessions do EDIT.WORK dentro desta mesma temática, Tânia Vieira dá-nos a conhecer um pouco do seu percurso profissional nesta entrevista, e fala-nos também da importância da formação em torno desta metodologia de trabalho.
1.Iniciaste a tua formação académica na área do Design. Fala-nos um pouco sobre o teu percurso, académico e profissional.
A minha formação base foi em design no IADE. Tive a oportunidade de ir para fora do país em Erasmus, onde tive acesso a métodos e formas de ensinar diferentes e com um mundo de ferramentas que me eram novidade ao dispor.
Sempre tive uma cabeça curiosa que me puxa a experimentar coisas diferentes e por isso decidi ir explorar um Mestrado em Publicidade. Ao mesmo tempo, estava a fazer um estágio em design gráfico pelo IEFP. Na altura, esses estágios eram de 12 meses, pelo que rapidamente percebi que Publicidade não era o caminho para mim e foi então que escolhi a vida de designer.
Trabalhei desde o início para a web. É certo que produzia muitos materiais para print mas o core do meu trabalho era muito centrado na web. Com esta necessidade de me centrar em material para web, comecei também a explorar o que era HTML & CSS. Ainda me lembro de fazer código com tabelas dentro de tabelas 🙂 Naturalmente que percebi que não ia muito longe com as tabelas e foi então que me inscrevi no curso da EDIT. de Front-end & Responsive Web Development onde aprendi imenso com os formadores e com as suas partilhas de experiência no mercado de trabalho. Acho que é muito importante ter esta partilha de conhecimentos e experiências. É sempre uma oportunidade de saber o que o mercado anda a fazer e à procura. Por exemplo, foi neste curso, no módulo de User Experience que descobri algo que já andava a explorar sem saber o conceito.
A partir deste curso, fiz uma série de outras formações, também na EDIT, por forma a aprender e também como especialização. Tenho a certeza que o meu percurso profissional não seria o mesmo sem a formação contínua.
2.Frequentaste o curso de Frontend & Responsive Web Development na EDIT., e especializaste-te posteriormente em UX. Qual, na tua opinião, a importância de investir em formação?
Independentemente de estar empregado ou de estar numa procura activa de integração no mercado de trabalho, a formação profissional contínua é cada vez mais encarada como um investimento com retorno.
Isto significa que com a formação, seja ela especializada ou complementar, adquirimos sempre novos conhecimentos e competências que são excelentes ferramentas de evolução qualificada e diferenciação que se podem transformar em mais valias para a evolução de carreira ou uma forma de entrar um passo à frente no mercado de trabalho.
Aliado a tudo isso, está também associada a confiança que ganhamos nas nossas próprias capacidades em resolver problemas e a colaborar através de uma boa comunicação.
Outra competência importante, é a empatia. No fundo representa a capacidade de se colocar no lugar do outro, para compreender melhor os seus comportamentos em determinadas circunstâncias e a forma como o outro reage e toma decisões.
Pensar de forma analítica é outra competência core para se ser um bom UX Designer. É necessário conseguir sintetizar e analisar informação de forma a transformar insights em novas ideias para um produto ou serviço.
Por fim, a tenacidade. Os problemas evoluem, as necessidades dos utilizadores mudam e o contexto pode ser diferente. Saber lidar com estas mudanças, os bons UX designers precisam ser tenazes. Com disposição para se lançarem a qualquer problema e às vezes o mesmo problema repetidas vezes.
Tive a oportunidade de abraçar um desafio numa empresa de Service Design. Um dos fatores chave estava na forma como o nosso foco era trabalhado na resolução de problemas que os clientes no propunham resolver, com recurso à metodologia de Design Thinking, que integram o utilizador final como parte da solução.
Resumidamente, o Design Thinking é uma metodologia de trabalho que nos permite ultrapassar algumas incertezas no momento de definição de estratégia de uma empresa em relação a um produto ou serviço. Através de entrevistas com clientes e com os parceiros, percebemos os padrões e as necessidades dos utilizadores, obtêm-se insights que trazem clareza e que permitem perceber qual deverá ser o foco na definição da estratégia.
Como o Steve Jobs disse “design is not just what it looks like and feels like. Design is how it works!” Existe a concepção de que o processo criativo é algo na esfera puramente artística e a verdade é que uma coisa visualmente apelativa não significa que seja algo que gostamos de utilizar. É a simbiose entre o visual e a experiência que um produto ou serviço possibilita que nos faz querer utilizá-lo.
A verdade é que é na fase do processo criativo que se estrutura o trabalho com a equipa e se começa a dar suporte na implementação dos princípios, mentalidades e atitudes para a geração sistemática de ideias. O que o processo do Design Thinking faz é explorar a criatividade através do pensamento divergente e do pensamento convergente para a criação de hipóteses numa procura contínua de soluções eficazes e focadas nos utilizadores.
O grande desafio está em saber identificar quais as hipóteses que devem ser testadas e validadas por forma a que estas se possam traduzir em novas oportunidades de negócio.
Estamos a falar de uma área que define a nossa experiência e interação com as máquinas e com a tecnologia. A isto chamamos Human-Centered Design, cujo objetivo é assegurar que essa interação seja uma simbiose e não uma invasão.
A evolução tecnológica das últimas décadas trouxe consigo inúmeras formas de interação como a voz, os gestos, o multi-touch e não podemos esquecer as modalidades mais emergentes, como a realidade aumentada, realidade virtual e wearables.Estamos diante um universo bastante extenso de inovação e evolução, onde Portugal tem dado passos largos na forma como quer trabalhar nesta área. Muitas empresas já perceberam que se poderem manter competitivas não podem recear o futuro mas sim ocuparem-se a criá-lo.
7.Em termos de projetos profissionais para o futuro, tens alguma meta que queiras cumprir nos próximos tempos?
Eu acredito que a exigência do mercado por UX designers continuará a crescer, não apenas na indústria tecnológica mas também noutras indústrias. Não acredito que deixemos os ecrãs de computador e dos dispositivos móveis num futuro próximo mas estou animada para ver como tecnologias emergentes, como inteligência artificial, comandos de voz, realidade aumentada e realidade virtual, se desenvolvem. Acredito que o futuro tem oportunidades empolgantes para os UX designers. Só precisamos de nos manter flexíveis e adaptáveis e aproveitar o futuro nos trouxer.
8.Enquanto formadora das Growth Sessions de Design Thinking no EDIT.WORK, que ferramentas e metodologias pretendes transmitir, e de que forma pensas poderem ser uma mais valia para o dia a dia?
O interesse crescente pelo Design Thinking demonstra o desejo pela inovação e o interesse das empresas em adoptar uma forma de trabalho mais humana, colocando o ser humano (cliente, utilizador, etc) no foco da solução.
É justamente esta vertente que espero conseguir transmitir aos meus alunos. Promover o trabalho colaborativo como forma de gerar ideias. Quero passar-lhes os meus conhecimentos em como conseguir terem o “olhar empático” quando estiverem a trabalhar em soluções provenientes desse processo.
Quero incentivá-los a colocar ideias em prática e a aprenderem com os erros: a geração de conhecimento e de valor acontece quando as ideias são testadas. Uma das premissas do design thinking é que as ideias sejam colocadas em prática através de protótipos de baixa fidelidade para serem testadas com os utilizadores e poderem ser refinadas antes de se investir em algo sem certezas.
As Growth Sessions Design Thinking I e Design Thinking II dinamizadas pela Tânia Vieira, realizar-se-ão durante o mês de outubro e poderás ficar a saber mais, respetivamente aqui e aqui 🙂